Por Livia da Silva Nascente|25 abr 2024
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Vital Brazil Mineiro da Campanha nasceu no dia 28 de abril de 1865, na cidade de Campanha, Minas Gerais, e faleceu no dia 08 de maio de 1950, na cidade do Rio de Janeiro. Cursou humanidades, na cidade de São Paulo, entre 1886 e 1891. Graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1891. No ano seguinte, ingressou no Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, no cargo de inspetor.
Em 1895, mudou-se para a cidade de Botucatu, no interior paulista, onde exerceu a clínica médica e iniciou sua pesquisa com o objetivo de desenvolver um tratamento eficaz contra o envenenamento por serpentes, até aquele momento inexistente no país. Em 1897, retorna para a capital paulista e ingressa no Instituto Bacteriológico, para dispor de mais recursos tecnológicos para dar continuidade às investigações sobre o ofidismo.
Em 1899, foi designado para organizar o Instituto Soroterápico do Estado de São Paulo, vinculado ao Instituto Bacteriológico, com o objetivo de fabricar o soro antipestoso, para o enfrentamento da epidemia de peste bubônica, que chegara ao Brasil. Em 1901, o Instituto Soroterápico foi desmembrado do Instituto Bacteriológico, passando a se chamar Instituto Butantan; enquanto que Vital Brazil foi oficializado como seu diretor.
Mesmo com os desafios no combate da peste bubônica, Vital Brazil conseguiu dar continuidade aos estudos sobre ofidismo e, em dezembro de 1901, faz sua primeira conferência sobre o tema, em que apresentou sua tese sobre a especificidade antigênica dos soros antiofídicos, demostrando publicamente a eficácia do tratamento soroterápico específico e anunciou a criação dos soros antibotrópico, anticrotálico e antiofídico (obtido com os venenos botrópico e crotálico).
Em 1917, Vital Brazil começou a enfrentar uma série de desentendimentos com a direção do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, em relação a administração do Instituto Butantan. No ano seguinte, pede exoneração do seu cargo no Butantan, com a intenção de organizar uma nova instituição de ciência e tecnologia. Outros funcionários da instituição decidem acompanha-lo em seu novo empreendimento, foram eles: Dorival de Camargo Penteado, Octavio de Morais Veiga, Crissiuma de Toledo, Arlindo de Assis, Oscar de Camargo Penteado, Augusto Esteves, Alvarina Brazil e José Marques Gomes.
Através de contrato firmado entre Vital Brazil e o Governo do Estado do Rio de Janeiro, no dia 07 de julho de 1919, foi fundado o Instituto Vital Brazil (IVB), sediado na cidade de Niterói, destinado a prestar serviços de defesa sanitária humana e animal, através de consultorias para governo fluminense e da produção soros, vacinas e outros fármacos empregados no combate de epidemias e endemias. Vital Brazil ocupou o cargo de diretor do IVB até setembro de 1924, quando retorna à São Paulo e reassume interinamente a direção do Instituto Butantan, a convite do governo do Estado de São Paulo. Na ocasião a direção do Instituto Vital Brazil ficou sob a responsabilidade do médico Dorival de Camargo Penteado (1873-1942).
Vital Brazil regressou ao IVB, em setembro de 1927. Em novembro de 1947, no auge de seus 82 anos, decide deixar a direção do Instituto, contudo retorna ao cargo, em 1948, diante da crise administrativa e econômica que a instituição enfrentava. Em 1949, com a saúde já bastante debilitada deixa suas funções definitivamente, sendo sucedido por Dinah Vianna Brazil (1895-1975).
Vital Brazil é reconhecido internacionalmente como uma figura proeminente da medicina tropical americana, tendo em seu currículo importantes trabalhos nos campos da imunologia, toxinologia, saúde pública e educação. Desempenhou um papel crucial na promoção da pesquisa experimental autóctone e na formação de novas gerações de biomédicos.
Vital Brazil estabeleceu como um dos principais objetivos para o Instituto em Niterói organizar, em todo país, os chamados postos antiofídicos. Travam-se de unidades de saúde, idealizadas pelo próprio Vital Brazil, ainda em 1911, com propósito de servirem de espaço para a promoção do sistema de permuta de ampolas de soros antiofídicos por serpentes encontradas durante o trabalho agrícola, oferecendo assim o tratamento soroterápico de forma gratuita para a população. Além disto, nos postos antiofídicos a comunidade local seria ensinada sobre medidas de prevenção e tratamento dos envenenamentos por serpentes.
Em 1920, foram criados os três primeiros postos antiofídicos, vinculados ao Instituto Vital Brazil e subsidiados pelo Governo Federal, no Mato Grosso, Goiás e Paraíba. Ao todo, o Instituto Vital Brazil organizou 05 postos antiofídicos pelo país, mantendo ainda parcerias com postos antiofídicos mantidos por outras entidades, a exemplo do Posto de Belo Horizonte, subordinado ao Instituto Ezequiel Dias. Em 1932, durante a gestão do Presidente da República Getúlio Vargas, foi encerrado o contrato entre o Instituto Vital Brazil e o governo federal. Mesmo com a descontinuidade dos postos antiofídicos, o Instituto Vital Brazil continuou com o sistema de permuta de soros por serpentes e projetos educativos sobre ofidismo.
Vital Brazil como sua força propulsora e criadora, moldou seu Instituto para ser um grande centro de pesquisa, trabalhando na busca de soluções para problemas da saúde coletiva e na exploração de novos horizontes e curiosidades científicas. Para registrar os estudos originais produzidos pelo corpo técnico instituição fundou, em 1923, a revista científica Archivos do Instituto Vital Brazil, continuada, a partir de 1927, com o título Boletim do Instituto Vital Brazil.
Em sua intensa atividade de pesquisa, Vital Brazil publicou diversos trabalhos sobre a biologia e os acidentes provocados pelos animais peçonhentos. Em 1923, deu início a uma profícua parceria com o médico francês Jean Vellard (1901-1996). A dupla realizou estudos sobre biologia das aranhas, análise da toxicidade de seus venenos e sobre araneísmo, resultando na produção, em 1926, pela primeira vez no país, do soro antiaracnídico. Investigaram ainda as propriedades dos venenos de anuros, o aparelho inoculador das serpentes, a hemocoagulação dos venenos e as funções fixadoras e modificadoras das toxinas pelos lipoides.
Em colaboração com o médico veterinário Américo Braga (1899-1947), Vital Brazil produziu uma nova vacina, de dose única, contra o carbúnculo hemático. E, em parceria com o médico Vital Brazil Filho (1904-1936), publicou um detalhado estudo sobre os sinais e sintomas no homem provocados pelo envenenamento por coral-verdadeira (Micrurus). Vital Brazil também desenvolveu o Soluto Crotálico, medicamento a base de veneno de cascavel (Crotalus durissus), indicado para o tratamento de dores crônicas, principalmente as de origem neoplásica, e da asma brônquica.
Vital Brazil também esteve envolvido na fundação de algumas instituições de ensino fluminense. Em 1920, participou do grupo idealizador da Faculdade Fluminense de Medicina, no entanto essa primeira tentativa não obteve êxito. Alguns anos depois, uma nova força-tarefa foi organizada, culminando na fundação, em 25 de junho de 1925, da Faculdade Fluminense de Medicina, atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.
No ano de 1939, doou um lote do terreno do Instituto Vital Brazil para a construção da sede da Escola Fluminense de Medicina Veterinária, atual Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense. A Escola fundada em 11 de março de 1936, contou com o apoio de Vital Brazil, incluindo sua autorização para que os laboratórios e outras dependências do IVB fossem utilizadas para a realização de aulas práticas sobre clínica médica, técnicas anatômicas, parasitologia e bacteriologia. Vital Brazil também foi nomeado professor catedrático honorário da cadeira de Microbiologia e Imunologia, bem como foi eleito para ministrar a aula inaugural dos cursos, em 1937, em que discursou sobre a evolução histórica do ofidismo.
Por suas contribuições à ciência, Vital Brazil recebeu diversas homenagens, dentre elas:
Em 19 de novembro de 1942, seu nome foi inscrito no Livro do Mérito, honra concedida pelo governo brasileiro.
Em novembro de 1945, inauguração o Hospital Vital Brazil. Unidade, localizada no Instituto Butantan, especializada no atendimento de pacientes envenenados por animais peçonhentos.
Em 28 de abril de 1965, durante as comemorações do centenário de nascimento de Vital Brazil, foi lançado selo postal e folhinhas comemorativas.
Em 1985, inauguração do Museu Vital Brazil, na cidade de Campanha (MG), instalado na casa em que nasceu Vital Brazil. O Museu possui valioso acervo de fotografias, cartas, documentos, trabalhos científicos, livros e objetos que foram doados pelos familiares de Vital Brazil.
Em 26 de abril de 1994, lançamento da cédula de Cr$ 10.000 com a efígie de Vital Brazil.
Em 2002, consolidação da situação de bairro do Vital Brazil, na cidade de Niterói. A partir de então o bairro passou a ter suas dimensões e limites basicamente conscientes com a antiga propriedade do Instituto Vital Brazil.
Em 2002, publicação do livro “Vital Brazil: obra científica completa”, organizada pelo pesquisador André de Faria Pereira Neto.
Em 28 de abril de 2011, lançamento da edição comemorativa dos 100 anos de publicação da primeira edição do livro “A defesa contra o ophidismo”.
Em 2015, inauguração da estátua de Vital Brazil na Praça Dom Ferrão, na cidade de Campanha.
Em 23 de fevereiro de 2021, inauguração da Praça Vital Brazil, no Instituto Butantan.
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Trabalho publicado na revista ‘Archivos do Instituto Vital Brazil’
BRAZIL, Vital. Notas sobre a biologia do Conepatus chilensis: contribuição ao estudo do seu apparelho defensivo. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.2, n.1, p. 57-67, 1924.
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Trabalhos publicados na revista ‘Boletim do Instituto Vital Brazil’
BRAZIL, Vital; BRAZIL FILHO, Vital. Do envenenamento elapineo em confronto com o chóque anaphylactico. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.15, p. 3-49, 1933.
BRAZIL, Vital; BRAGA, Américo. Da importância dos lipoides no preparo da vacina contra o carbúnculo hemático. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.17, p. 3-31, 1935.
Brazil, Vital. Dr. Dorival de Camargo Penteado. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.24, p. 3-4, 1942.
seu apparelho defensivo. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.2, n.1, p. 57-67, 1924.
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Trabalhos publicados na revista ‘Biologia Médica’
BRAZIL, Vital. Do emprego da peçonha em terapêutica. Biologia Médica, ano1, n.1, p. 7-21, 1934.
BRAZIL, Vital. Do emprego da peçonha em terapêutica (continuação). Biologia Médica, ano1, n.2, p. 50-62, 1934.
BRAZIL, Vital. Notas sobre a biologia do Conepatus chilensis: contribuição ao estudo do seu apparelho defensivo. Biologia Médica, ano 4, n.10, p. 3-16, 1937.
BRAZIL, Vital. Contribuição ao estudo do ofidismo. Biologia Médica, ano 5, n.13, p. 3-27, 1938.
BRAZIL, Vital. Considerações gerais sobre a biologia dos animais peçonhentos. Biologia Médica, ano 7, n.15, p. 3-17, 1944.
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REFERÊNCIAS
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