Por Livia da Silva Nascente|25 abr 2024
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Arlindo Raymundo de Assis nasceu em 30 de outubro de 1896, na cidade de Salvador, Bahia, e faleceu em 30 de novembro de 1966, no Rio de Janeiro. Graduou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1917. No ano seguinte, migrou para a cidade de São Paulo onde trabalhou como médico clínico, em Palmital e, posteriormente, ingressou no Instituto Butantan como sub-assistente interino.
Em 1918, o médico Vital Brazil (1865-1950) decidiu deixar a direção do Instituto Butantan, após desentendimento com a direção do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, disposto a organizar outra instituição de ciência e tecnologia. Na ocasião, Arlindo de Assis – e outros funcionários – optou por também pedir exoneração do seu cargo no Instituto Butantan para acompanhar Vital Brazil em seu novo empreendimento.
Vital Brazil fundou, em 07 de julho de 1919, na cidade de Niterói (RJ), o Instituto Vital Brazil (IVB). Na instituição, Arlindo de Assis ocupou o cargo de assistente, sendo responsável pela fabricação de determinadas vacinas e soros e pela realização de exames clínicos para a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Assis também foi encarregado de organizar e administrar a biblioteca institucional.
Arlindo de Assis publicou diversos trabalhos de alcance prático para a saúde coletiva da população brasileira, a exemplo dos estudos sobre a bacteriologia e imunologia das meningocócicas, disenteria bacilar, gonorreia, febre tifoide, sorodiagnóstico da sífilis e tuberculose.
A principal pesquisa realizada por Arlindo de Assis, enquanto atuou no Instituto Vital Brazil, versou sobre produção da vacina BCG. A pesquisa foi iniciada, em 1925, a partir do recebimento de uma cultura do bacilo BCG (bacilo de Calmette e Guerin), vinda do Instituto Pasteur de Lille. Assis realizou testes de virulência daquela cultura bacteriana em coibais e, em outubro daquele mesmo ano, tentou iniciar a vacinação oral contra tuberculose, em crianças recém nascidas, em Niterói, porém por não conseguir o controle necessário dos vacinados teve que postergar o início das imunizações.
Em agosto de 1927, a Liga Brasileira Contra a Tuberculose (atual Fundação Ataulfo de Paiva) organizou o serviço de vacinação pelo BCG, cuja direção ficou a cargo do próprio Arlindo de Assis. O Instituto Vital Brazil forneceu gratuitamente as vacinas BCG; conseguindo assim realizar, pela primeira vez no país, a aplicação da vacina contra a tuberculose.
Paralelamente, em colaboração com O. Dupont – professor da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária – Arlindo de Assis preparou a vacina BCG para uso veterinário, destinado a imunização de vitelos recém-nascidos.
Arlindo de Assis fez parte do grupo responsável pela fundação, em 1925, da Faculdade Fluminense de Medicina, atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, onde ocupou o cargo de professor catedrático do curso de microbiologia. Em seu laboratório, no Instituto Vital Brazil, orientou graduandos de medicina, alguns dos quais se tornaram grandes nomes da ciência nacional e internacional, a exemplo de Manuel Miguelote Vianna (1903-1956), Vital Brazil Filho (1904-1936) e Otto Bier (1906-1985).
Em 1930, Arlindo de Assis deixou o Instituto Vital Brazil, sendo sucedido pelo médico Vital Brazil Filho. Continuou seu trabalho na Fundação Ataulfo de Paiva. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Tuberculose e diretor do Departamento Nacional de Saúde (atual Ministério da Saúde).
Arlindo de Assis é considerado um dos maiores bacteriologistas brasileiros do século XX. Recebeu diversas homenagens por suas contribuições à ciência, dentre elas: teve seu no inscrito no Livro do Mérito, honra concedida pelo governo brasileiro; recebeu o título de Oficial da Legião de Honra, condecoração concedida pelo governo francês; e a Medalha de Ouro Louis Pasteur, entregue pelo Instituto Pasteur de Paris. É patrono da Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro e da Academia Nacional de Medicina.
Em 2024, A Biblioteca do Instituto Vital Brazil passou a se chamar Biblioteca Arlindo Raymundo de Assis. A mudança é uma homenagem à trajetória deste ilustre personagem brasileiro, que tanto contribuiu com o desenvolvimento do Instituto Vital Brazil e com as ciências biomédicas do país.
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Trabalhos publicados na revista ‘Archivos do Instituto Vital Brazil’
ASSIS, Arlindo de; COSTA, G. Moura. Indice de permeabilidade nas affecções syphiliticas do systema nervoso. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.1, n.1, p.53-73, 1923.
ASSIS, Arlindo de. Sobre alguns meios de cultura e de conservação dos meningococos. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.1, n.1, p.74-81, 1923.
ASSIS, Arlindo de. Da classificação de meningococcos: 1a comunicação. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.2, n.1, p.41-56, 1924.
ASSIS, Arlindo de. Sobre a evolução do sorodiagnostico da syphile. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.2, n.2, p. 225-258, 1924.
ASSIS, Arlindo de. Da acção do formol sobre a toxina dysenterica. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.3, n.1, p. 3-23, 1925.
ASSIS, Arlindo de. Considerações sobre o problema da fiscalização dos soros e productos biológicos. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.3, n.1, p. 51-61, 1925.
ASSIS, Arlindo de. Sobre a floculação do soro anti-dysenterico. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.3, n.1, p. 63-77, 1925.
ASSIS, Arlindo de. Pesquisas sobre o complemento secco pharmagans. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.3, n.1, p. 79-109, 1925.
ASSIS, Arlindo de. Meio simples de conservar as culturas microbianas. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.3, n.2, p. 127-129, 1925.
ASSIS, Arlindo de. Observações sobre o cultivo dos conococcos. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.3, n.2, p. 133-142, 1925.
ASSIS, Arlindo de. Contribuição ao soro-diagnostico das gonococcias. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.4, n.1, p. 3-7, 1926.
ASSIS, Arlindo de. Technica simples para as provas de esterilidade. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.4, n.1, p. 83-85, 1926.
ASSIS, Arlindo de. Sobre o choque meningococcico nos animaes e sua prevenção. Archivos do Instituto Vital Brazil, v.4, n.2, p. 137-145, 1927.
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Trabalhos publicados na revista ‘Boletim do Instituto Vital Brazil’
ASSIS, Arlindo de. Sobre proteus pseudovaleriae e sua verificação no homem. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.1, p. 3-25, 1927.
ASSIS, Arlindo de. Ensaio dos lipoides biliares na fixação de complemento da syphile. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.1, p. 26-34, 1927.
ASSIS, Arlindo de. Sobre a verificação experimental do BCG. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.2, p. 1-13, 1927.
ASSIS, Arlindo de. Techinica para a fixação de complemento da syphile, em uso no Instituto Vital Brazil. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.2, p. 14-43, 1927.
ASSIS, Arlindo de. Sobre a natureza da toxicidade dos bacillos paradysentericos. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.3, p. 3-17, 1928.
ASSIS, Arlindo de; MENDES, Nelson O. Sobre o valor da reacção de Widal depois da oro-vaccinação typhica. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.3, p. 18-22, 1928.
ASSIS, Arlindo de; DUPONT, O. Ensaios de premunição contra a tuberculose bovina pelo B.C.G. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.4, p. 3-13, 1928.
ASSIS, Arlindo de. Estudos sobre o gênero Eberthella Buchanan 1918: sobre dois novos bacilos pseudotyphicos: Eb. tarda e Eb. Oedematiens. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.5, p. 3-26, 1928.
VELLARD, Jean; ASSIS, Arlindo de. Estudos imunológicos sobre os venenos dos batrachios. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.7, p. 3-27, 1929.
ASSIS, Arlindo de. Observações sobre a variabilidade de Eberthella dysenteriae. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.9, p. 3-19, 1929.
ASSIS, Arlindo de. Sobre a vaccinação anti-tuberculosa do homem pelo BCG. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.10, p. 3-15, 1929.
ASSIS, Arlindo de. Novas verificações experimentaes do B.C.G. em cobaio. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.10, p. 16-20, 1929.
ASSIS, Arlindo de; DUPONT, O. Nota addicional aos ensaios de premunição contra tuberculose bovina pelo BCG. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.10, p. 21-24, 1929.
ASSIS, Arlindo de. Sobre os toxoides Shiga e seu emprego na producção do sôro dysenterico antitóxico. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.11, p. 3-27, 1929.
ASSIS, Arlindo de; MENDES, Nelson O. Investigação sobre bacterias visinhas do bacillo paradysenterico de Kruse-Sonne. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.12, p. 3-15, 1930.
ASSIS, Arlindo de. Observações sobre a fermentação da maltose pelos bacilos dysentericos e paradysentericos (Flexner-Hiss). Boletim do Instituto Vital Brazil, n.13, p. 3-19, 1930.
ASSIS, Arlindo de. Sobre Alcaligines lenis e sua verificação no homem. Boletim do Instituto Vital Brazil, n.14, p. 3-13, 1930.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Franciane (Org.). História da medicina em Niterói. Niterói: DB Editora, 2008.
BRAZIL, Vital. Memória histórica do Instituto de Butantan. São Paulo: Elvino Pocai, 1941.
PENNA, Estefânia Quilma; MAIA, Fátima Maria M. (Orgs.). Documentos contam a história do Instituto Vital Brazil: 1919-2010. Rio de Janeiro: Rio Books, 2011.
RIBEIRO, Lourival. Fundação Ataulpho de Paiva: Liga Brasileira Contra a Tuberculose: notas e documentos da sua história. Rio de Janeiro: [s.n.], 1985.
VITAL BRAZIL, Oswaldo. Contribuição para a história da ciência no Brasil. Campanha, MG: Casa de Vital Brazil, 1989.
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